quinta-feira, 2 de julho de 2009

Talvez uma auto-descrição de uma estranha que sou eu.

Como eu poderia esquecer aquela noite? Um motivo aparentemente banal, mas que causava imenso aperto no peito. Já estava cansada de viver me sentindo assim. Decidi então fazer uma promessa.
Promessas... tão comuns! No entanto, no momento em que eu disse aquelas palavras, não percebi tamanha força que estava aplicando a elas. Antes de tudo, foi pra mim mesma que eu disse que não iria mais se repetir tal cena. Cena até então costumeira na minha vida adolescente. E, como mágica, tudo mudou.
Nunca imaginei o impacto que isso causaria em minha vida. Horas depois, eu tentei quebrar a promessa. Forcei-me a repetir o ritual habitual. Preparei-me pra sentir a ilusão de um astigmatismo agudo, que passa com um piscar de olhos, literalmente, acompanhado pela sensação de um rosto molhado e, posteriormente, inchado, sem contar com as reações sentimentais. Mas nada aconteceu. Nada acontecia. Continuei parada do mesmo modo como se estivesse pensando sobre algo que muito me preocupasse. Nenhuma alteração na minha face, nenhum ruído desesperado fugia de minha garganta. Olhei pro travesseiro, achei melhor dormir.
Desde então, venho-me observando diferente. Não senti mais aquelas pontadas no peito e nós na garganta. Tudo passou a parecer tão mais fácil de resolver, bastando analisar com calma, conclui pra mim mesma.
O efeito inicial foi bem claro: coisas boas começaram a acontecer. Passei a aceitar imediatamente as situações usando minha boa razão na hora de responder a tudo, a ter mais diversão. Foi como se eu passasse a atrair coisas boas.
Alguns meses depois, me deparo com uma pessoa estranha, que eu não conheço muito bem. Ela tá sempre ali, quando vou me olhar no espelho. Mas não me vejo, só vejo a ela. Sei que ela é, em grande parte, conseqüência da promessa. Ela não parece ter dezoito anos, parece ter mais. Fisicamente é até adorável, apesar de não concordar plenamente com isso, eu sei. Ela se acha branquela demais, queria que o cabelo fosse um pouco mais liso e que crescesse bem rápido pras luzes irem embora. Não sorri tão à vontade enquanto um aparelho ortodôntico não trabalhar em sua boca. Acha-se gorda com seus cinqüenta e poucos quilos em um metro e sessenta e sete, mais ou menos. Ama a total recessividade presente em seus olhos, graças à abençoada genética. Mas seus olhos vão além da beleza. Se você olhar bem , verá que eles revelam uma pessoa que se tornou fria em determinados assuntos ao longo do tempo. Talvez seja conseqüência de tanto sofrer. As pessoas costumam aprender a se defender depois de muito tolerarem certas situações. Lamento por ela. Ao mesmo tempo, sou feliz por me olhar no espelho e ser a ela quem vejo, ao invés de quem estava acostumada a ver. Ela é forte, anda usando mais a inteligência do que o coração, não chora, tem um amor, amigos, família, é divertida quando quer, não é mais inconveniente e aprendeu a ignorar as coisas ruins. Ainda se dá bem nas provas e, sem dúvidas, tornou-se mais prática. Decidiu conquistar as pessoas sendo o que ela é e não o que as pessoas gostariam que ela fosse.
Talvez ande magoando mais as pessoas do que permitindo ser magoada. E, apesar de ter perdido grande parte de características que sempre a acompanharam, no fundo ela ainda é extremamente sensível, sabe dar valor ao que merece, é solidária e se esforça pra não mais deixar transparecer suas fraquezas, seus medos e terrores, pois assim ela fica melhor. Aprendeu a se virar sozinha e ser feliz consigo mesma.



É, até que ela me orgulha de vez em quando.

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