sábado, 30 de janeiro de 2010

meu verão mais obscuro

Acho que é inexpressável o que aconteceu, o modo como me senti, o modo como isso lateja dentro de mim. Já se passaram alguns dias e a dor só piora. Eu fico a esperar um milagre, uma mudança...
De qualquer forma, não sai da minha cabeça. Me sinto dentro de uma novela.
Ao sair da piscina, resolvi pegar um sol. Sentei na beiradinha, balançando os pés na água e observando as pessoas. Havia um casal de namorados do meu lado, felizes, sorrindo.
Achei melhor tomar meu banho, ir embora, do que ficar vendo aquela cena.
Sentei sozinha na mesa, esperando. Fiquei a olhar para a porta do banheiro masculino. Enquanto isso a minha mente vagava por tantos momentos, momentos passados, alguns ainda recentes e momentos que eu queria viver. Na mesa ao meu lado, o casal novamente. Agora eles se beijavam. Confesso que os invejei. Olhei pras minhas mãos, vazias, sem nenhuma marca, sem nenhuma outra mão a se fundir. O meu celular não tocava. Nenhuma risada, elogio ou piadinha ecoava pro meu lado. E já eram mais de seis da tarde de um sábado. Eis que sai uma figura do banheiro. De pele branca, mais ou menos alto, cabelos escuros e arrepiados, olhos castanhos marcantes, aquele sorriso torto... eu quase me levantei. Resolvi olhar novamente. Foi aí que me dei conta de que não era possível que fosse quem eu esperava que fosse. Fechei os olhos, decepcionada e frustrada comigo mesma, por desejar isso tão forte a ponto de materializar um desejo. Segurei com maior intensidade a bolsa em meu colo, como se assim eu tivesse um lugar em que me apoiar. Como se pudesse passar para aquele grande saco de pano toda a minha dor e angústia.
Confesso que não adiantou nada, que o melhor momento do dia foi quando fechei os olhos dentro da sauna e me senti longe de tudo, em um lugar desconhecido, onde ninguém viesse me perturbar com a minha dor. Imaginei que talvez aquela sauna poderia ser uma câmara de gás e eu estaria morta em segundos, como aconteceu com tantos judeus. Ao menos não ia mais sofrer.
Mas abri os olhos e estava viva.
Viva para viver tanta coisa que me parece impossível no momento. Ah, como eu preferia aquela monotonia dos finais de semana, aquele corriqueirismo que, apesar de tão presente, era tranquilo. Sei que não parecia, mas eu era feliz.
Eu queria ser feliz eternamente daquele jeito, consertando aqui e ali, mudando aqui e ali, mas queria estar naquele caminho, e que ele fosse o caminho certo da felicidade.
Tantos sorrisos, tantas palavras e tantos momentos sem tradução. Eles gritam na minha memória e no meu coração. Gritam por socorro, por resgate. Gritam para que eu não os deixe morrer, que os renove. Que traga mais deles. E que não deixe de trazer nunca.
Eles insistem em gritar... que querem que esse ponto não seja um ponto e sim uma vírgula.
Mas não depende só de mim, eu já disse isso pra eles...
Alguns minutos depois vi a figura do meu pai a sair do banheiro. Vesti meu melhor sorriso e minha simpatia. Mergulhei a caminho de mais uma noite só, fria e cinzenta como as de Liesel, apesar do alto verão.
Frias e cinzentas como as nuvens que obscuram o meu coração.

domingo, 24 de janeiro de 2010

"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."

Caio Fernando Abreu