domingo, 8 de novembro de 2009

Eu sorrio, eu saio, eu estudo, eu converso, eu tento enxergar uma pontinha do fio da felicidade por debaixo do rio de tristeza, tento puxar esse fio, tento desenrolá-lo, trazê-lo para mais perto.

Primeira tentativa:
Tudo estava bem.
Levei um soco, caí dentro do rio. Não me desesperei, esperei chegar a calmaria, esperei encostar à margem. Abracei o fio de felicidade, vou ficar segurando-o.

Segunda tentativa:
Levei um soco e dois pontapés. Dessa vez caí no rio e bati com a cabeça nas pedras. Sangrou, sabe? Doeeeu. Mas eu fui forte, corri pra margem novamente.
Rio, calmaria, margem, fio de felicidade.


Terceira tentativa:

Levei um soco, dois pontapés e um empurrão; empurrão este que parece dizer: “não te quero por aqui, é um martírio você por aqui, não vê ?”. Mais uma vez dentro do rio. Já toda molhada, toda tomada por aquelas águas, pelo que elas trazem consigo. Tomada de tal forma que eu não tenho forças para esperar a calmaria, força para buscar a margem uma terceira vez. Vou sentar nessa pedra e esperar a dor do soco passar. Esperar as dores dos pontapés passarem. Esperar a pressão daquele empurrão passar. Esperar se desfazer o nó na garganta. Esperar passar a decepção por todos os dias de uma espera que não trouxe o que eu esperava. Por fim, vou esperar um resgate. Se ele não aparecer, vou ficar por aqui mesmo.

Pronto, é isso.

Um soco, uma indiferença, uma palavra grosseira. Dois pontapés, duas indiferenças, três tristezas. Vários nós na garganta. Vários choros. Vários abandonos. Vários olhares pros lados e nenhuma presença. Somente a de um par de olhos que parece querer me devorar. Nenhum ouvido a escutar o que tenho para dizer, o que me preocupa, o que me deixa feliz. Nenhum abraço quando eu precisei. Nenhum incentivo quando decidi superar meus limites. Fiquei com o resto dos minutos, aqueles minutos que a gente dedica para dormir, onde até já estamos rabugentos. Fiquei com aquele silêncio cortante, cortante pro meu coração. Foi o que me restou.
Agora o meu coração está cortado por eles, por todos aqueles silêncios. Todos eles se reuniram nesses últimos dias. Os únicos sons que me ocorrem, por vezes, são os ecos de todos os pontapés, socos, empurrões para o rio da tristeza, todas as agressões não-físicas ao que eu chamo de Amor.
Assim o Amor, o chefe maior, decidiu recuar. Amedrontaram-se todas as suas tropas de combate. Recuaram todas elas. Decidiram ficar sentadas a esperar também. Elas sabem que podem esperar por um bom tempo. Mas elas têm esperança de que não vai demorar.
Se demorar, talvez até lá elas já tenham mudado de ideia. Talvez, até lá, enquanto fica a esperar, o Amor, o chefe maior, decida que é melhor tirar umas férias; que nesse campo de batalha não há mais chances de vitória. Resolve perder por WO.


E que tire umas férias, de alguns anos, por favor. Afinal, ele vai merecer.


Depois desses anos ele pode encontrar outro alvo, num outro dia. Um alvo que corresponda ao que ele procura. Ele pode até se lamentar por tudo que viveu no antigo campo, por as coisas não terem saído como ele quis, por ter perdido a batalha. Mas nesse novo campo tudo será novo, com a exceção da experiência que evitará os mesmos erros, as estratégias furadas.

É tudo uma questão de talvez.
Por enquanto, ele ainda está na luta, o fiozinho de felicidade ainda brilha no desejo de ser puxado, de ser trazido para mais perto.