sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ops, reacordei!

Eis que de repente tudo muda.
Aquilo que era igual agora fica diferente, avesso, contrário.

Surge um estalido em minha mente, e, como uma substância ilícita que percorre todo o corpo tomando cada veia, cada artéria, cada órgão, até ser absorvida pela última das células; aparece aquela sensação gostosa, o típico frio na barriga, uma ansiedade sem tamanho.
Nesta hora, todo o meu eu já está convicto da ideia.
Empolga-se com a tal, pensa que pode ser o que estava faltando.

Uma válvula de escape, isso! Era o que me faltava.
Daí voltam as lembranças, luzes pra todos os lados, corpos suados, balançando no ritmo da música, adrenalina correndo solta, sensação de liberdade... felicidade!
Voltam também as gargalhadas ecoando pelas ruas, corredores, quartos, paredes.
Aqueles montes de pés, mãos, cabelos, sorrisos.
Aqueles ônibus cheios de rostos conhecidos.
Guerras de travesseiros e desabafos. Rodinhas de violão, chuveiradas, fotos e mais fotos, algumas registradas somente pelos meus olhos.


-

Foi como se tivessem me congelado. Como se me colocassem em uma vitrine.
Vejo tudo acontecer na minha frente, tudo igual. Todas as possibilidades.
Mas não me movo. Estou paralizada, observada, analisada, comentada.
Paralizaram-se, inicialmente, meus pés, em seguida meus joelhos, mãos, pés, boca.
Minha mente ainda funcionava, porém parecia invertida.

Vi o sim ser trocado pelo não e começaram a surgir muros na frente da vitrine.
Por mais que se esforçasse, meu pescoço não se erguia o suficiente para ver o outro lado.
Ficou longe, foi embora.


Passaram anos e a mesma rotina. Eis que ouço uma música bem alta, parecia vinda do outro lado da muralha. Resolvo tentar espiar de novo.

Com um comando, meus joelhos destravaram, meus pés se ergueram e observei o maravilhoso espetáculo que estava perdendo.
Decidi voltar a ser gente. Esquecer a vida de manequim.


-

Nunca havia parado para pensar que quem me colocara ali fora eu mesma. Quem fez com que meus pés se firmassem como a raiz de uma árvore ao chão e meus joelhos travassem como trancas de um presídio de segurança máxima fora eu mesma. Meu inconsciente sabia disso. Somente depois de mandar incansáveis lembranças do mundo real é que acordei, despertei do sono tolo, triste, nostálgico, mau-humorado.
Troquei aquele vestido de princesa, os sapatinhos de cristal. Vesti uma jeans, uma blusa, um salto. Maquiagem, escova e o telefone em mãos: "Tô pronta, vamos?".
Paradas em frente àquele lugar, com cheiro de diversão, outra vez sinto a pontinha de adrenalina ressurgir.
Ao meu lado, um sorriso confiante de um de meus sinônimos de amizade verdadeira.
Seus olhos brilham, tais quais estrelas do céu.
Passos determinados, decididas.
A noite promete.

domingo, 26 de julho de 2009

Pra que dor, amor?


Sabe, eu me lembro de quando me foi oferecida uma missão. Eu disse sim, na esperança da felicidade.

Com o tempo, a felicidade fez umas exigências. E, por amor, sem dúvidas desse amor, eu cumpri cada uma das exigências. Não nego que todas foram um sacrifício pra mim. Delas, sem dúvidas, as piores foram as dores de cada despedida, das lágrimas que rolaram, da angústia que eu sentia e fazia sentir. Uma, duas, dez ou mais vezes. Com várias pessoas. Todas diferentes, mas pelo mesmo motivo.

Mas eu também me lembro da música que eu não dancei, do comentário, do passeio que não fiz, da experiência que não partilhei, de cada vez que agi contrária ao que minha mãe me dizia pra agir, que era tentada a agir contra meus próprios valores. Lembro do sorriso que não dei, da máscara que criei, de cada pancada que endurecia o meu órgão mais precioso: o coração.

Lembro, (como esquecer?) das lágrimas que chorei. E olha que foram muitas. Lembro-me de todas elas, por cada uma das situações, todas por um mesmo propósito.

Lembro de cada pessoa que não cumprimentei ao passar na rua, do desvio de olhares à mínima presença. De cada festa, cada comemoração, cada convite que recusei. Por outro lado, relembro a agonia de cada situação que vivi, não por livre e espontânea vontade, e da sensação de aperto no peito e nó na garganta que senti quando me deparava ‘sozinha’ naquele meio.

Lembro de cada acusação que me foi feita. Muitas com razão. Muitas mais sem culpa de minha parte. Mais lágrimas, mais dor, mais sofrimento.

Lembro de cada vez que prometi mudar pra agradar e assim o fiz.

Lembro de cada vez que cheguei ao ápice de minha dor e resolvi pôr um fim em tudo; mas também me lembro das promessas de mudanças, que eu aceitava com paciência e esperança de felicidade e lembro-me de cada hora de sono gasta em orações, pedindo paz, felicidade, bênçãos...

Lembro de cada ofensa e de cada tapa que elas foram a meu eu.

Sem contar com todas as vezes em que sofri em silêncio, para não causar problemas. Esse silêncio de cada dor corroeu-me bastante por dentro. E eu sofri em silêncio, ainda sofro, muitas vezes, pra proteger também.

No entanto, eu passei por tudo. Eu abri mão disso tudo. Eu disse sim pra batalhas que me presentearam com cada uma das feridas que hoje trago no peito. Algumas ainda abertas, outras cicatrizando. Fiz e faço tudo por amor. Pela esperança de felicidade. Pelo bem estar alheio. Não me arrependo.

Mas hoje, depois de tanto tempo, tantos sacrifícios e tanta dedicação, recebo o avesso de tudo que fiz.

Recebo palavras duras, ásperas, fortes, negativas. Ditas com tanta convicção que tremeram a minha carne. Ditas com tanta sinceridade que meu coração gritou de dor ao lê-las.

Recebo a dor que evitei que outrem passasse caso eu não fizesse cada uma das despedidas. Recebo a raiva que evitei em outrem a cada convite recusado.

Sinto como se nada que eu fizesse fosse o bastante. Como se eu nunca fosse boa suficiente. Como se eu nunca fosse amadurecer como desejado.

E sabe o que eu queria em troca? Um pedido de desculpas quando o meu rosto se voltasse para o chão, ou a minha mão ficasse em punho e um abraço aconchegante que expressasse sentimento. Um braço a minha volta protegendo, entendendo que preciso daquilo. Talvez uma troca de olhares com um sorriso, aquele sorriso, se não fosse pedir muito.

Assim é que se reconquista o que possivelmente foi entristecido em mim. Poxa, até isso tenho que explicar? A fórmula que garante que vou estar junto sempre, que vou sorrir, ser legal e divertida, inteligente, intelectual e menos imatura, ao menos pelo resto do dia, até que, com um investimento de não muito tempo, eu pegue gosto pelas coisas e as faça sorrindo, ainda que seja um sacrifício pra mim.

Eu também queria em troca um ouvido pra cada palavra que me assolasse com a necessidade de ser expressa. Queria um colo mais disponível. Queria uma companhia para diversão. Queria não ter que me preocupar com humor antes de cada encontro. Ouvir um elogio quando me esforço em parecer bonita. Que tivesse orgulho e demonstrasse, ao menos pra mim, de me ter ao seu lado. Que cada encontro fosse uma descoberta. Um pouquinho do que a felicidade me prometeu.

Mas o que eu mais queria é não falhar na missão que me foi concedida, queria não ter lido que não trouxe felicidade para um coração que a buscou em mim...

Eu me esforço. Mas se um dia eu não conseguir cumpri-la, ao menos sairei com a consciência tranqüila de que fiz tudo o que pude. O que eu não pude, tentei.

E eu tenho certeza de que Deus está vendo tudo... e Ele sabe o que faz.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Talvez uma auto-descrição de uma estranha que sou eu.

Como eu poderia esquecer aquela noite? Um motivo aparentemente banal, mas que causava imenso aperto no peito. Já estava cansada de viver me sentindo assim. Decidi então fazer uma promessa.
Promessas... tão comuns! No entanto, no momento em que eu disse aquelas palavras, não percebi tamanha força que estava aplicando a elas. Antes de tudo, foi pra mim mesma que eu disse que não iria mais se repetir tal cena. Cena até então costumeira na minha vida adolescente. E, como mágica, tudo mudou.
Nunca imaginei o impacto que isso causaria em minha vida. Horas depois, eu tentei quebrar a promessa. Forcei-me a repetir o ritual habitual. Preparei-me pra sentir a ilusão de um astigmatismo agudo, que passa com um piscar de olhos, literalmente, acompanhado pela sensação de um rosto molhado e, posteriormente, inchado, sem contar com as reações sentimentais. Mas nada aconteceu. Nada acontecia. Continuei parada do mesmo modo como se estivesse pensando sobre algo que muito me preocupasse. Nenhuma alteração na minha face, nenhum ruído desesperado fugia de minha garganta. Olhei pro travesseiro, achei melhor dormir.
Desde então, venho-me observando diferente. Não senti mais aquelas pontadas no peito e nós na garganta. Tudo passou a parecer tão mais fácil de resolver, bastando analisar com calma, conclui pra mim mesma.
O efeito inicial foi bem claro: coisas boas começaram a acontecer. Passei a aceitar imediatamente as situações usando minha boa razão na hora de responder a tudo, a ter mais diversão. Foi como se eu passasse a atrair coisas boas.
Alguns meses depois, me deparo com uma pessoa estranha, que eu não conheço muito bem. Ela tá sempre ali, quando vou me olhar no espelho. Mas não me vejo, só vejo a ela. Sei que ela é, em grande parte, conseqüência da promessa. Ela não parece ter dezoito anos, parece ter mais. Fisicamente é até adorável, apesar de não concordar plenamente com isso, eu sei. Ela se acha branquela demais, queria que o cabelo fosse um pouco mais liso e que crescesse bem rápido pras luzes irem embora. Não sorri tão à vontade enquanto um aparelho ortodôntico não trabalhar em sua boca. Acha-se gorda com seus cinqüenta e poucos quilos em um metro e sessenta e sete, mais ou menos. Ama a total recessividade presente em seus olhos, graças à abençoada genética. Mas seus olhos vão além da beleza. Se você olhar bem , verá que eles revelam uma pessoa que se tornou fria em determinados assuntos ao longo do tempo. Talvez seja conseqüência de tanto sofrer. As pessoas costumam aprender a se defender depois de muito tolerarem certas situações. Lamento por ela. Ao mesmo tempo, sou feliz por me olhar no espelho e ser a ela quem vejo, ao invés de quem estava acostumada a ver. Ela é forte, anda usando mais a inteligência do que o coração, não chora, tem um amor, amigos, família, é divertida quando quer, não é mais inconveniente e aprendeu a ignorar as coisas ruins. Ainda se dá bem nas provas e, sem dúvidas, tornou-se mais prática. Decidiu conquistar as pessoas sendo o que ela é e não o que as pessoas gostariam que ela fosse.
Talvez ande magoando mais as pessoas do que permitindo ser magoada. E, apesar de ter perdido grande parte de características que sempre a acompanharam, no fundo ela ainda é extremamente sensível, sabe dar valor ao que merece, é solidária e se esforça pra não mais deixar transparecer suas fraquezas, seus medos e terrores, pois assim ela fica melhor. Aprendeu a se virar sozinha e ser feliz consigo mesma.



É, até que ela me orgulha de vez em quando.